quarta-feira, maio 27

Falatório


Dizem-me para eu não [escre]ver. Para não [escre]ver se for só por obrigação.

Dizem-me para não sentir em demasia. Para ser mais objectiva.
Dizem que em mim há muito coração. Mas que pouco dele é meu.

Se me vêem a chorar é porque sou demasiado frágil.
Se aguento tudo com um sorriso, sou fria.
Se digo o que penso sou respondona.
Se fico em silêncio é porque não me interesso e sou mal-educada.


Não quero ouvir mais! (mas eles continuam a falar. Falam sempre.)

Pego num cigarro (mas eu não fumo!) e acendo-o. Mas não lhe toco. Dou por mim a ver a cinza a cair... a escrever a história da minha vida. De qualquer outra vida.
Esse cigarro invent[d]ado que me mata aos poucos.




Só não [me] mata esse vício de ti! (Dizem...)

segunda-feira, maio 18

[vont]ades ,





"As vontades não se pegam. Ou então não são vontades sinceras."




Então porque é que de cada vez que te olho nos olhos me dá vontade de te[r] [am]ar?
"As vontades não se pegam..." ressoa na minha cabeça...
Então porque 'raio' é que de cada vez que estou contigo experimento sempre mil e uma vontades... mil e uma sensações... todas tão diferentes... e tão iguais. Tão únicas... tão tuas...
Porque são tuas, entendes? As vontades...
Pertencem-te. Não a mim.
Porque eu também não me pertenço. Não sei se há um eu sequer.

- Há?

Porque é como se tudo o que eu sou fosse agora teu.
... como se tudo o que te dei tivesse sido simplesmente deitado ao lixo.

- É isso. É assim que tu me vês, não é? Como lixo...
~ Não.
- ...
~ Tu és aquilo que de melhor eu tenho.

(Silêncio)

~ Não dizes nada?

(Suspiro)

~ Ainda não entendeste, miúda?
- Não me chames isso!
~ Desculpa...

Apetecia-me virar-te as costas, entendes?
Ser capaz de te deixar ficar para trás, de dizer adeus e escrever um ponto final. Mas como se [escre]ve isso numa história que sempre [te]ve somente vírgulas?

~ Tu és a minha vontade...

(Sorriso)

Mas será que tu sabes sempre o que eu preciso de ouvir?

quarta-feira, maio 13

[d]ias [de chuva]


.


Apetece-me chorar. Quero chorar.



... mas não consigo. Não sou capaz. [Não] mais...


É que esta tua ausência fere-me e todos os dias são dias de chuva.
A distância diz-me que já não há nada que possa chamar 'nosso'.
Não há u[m] 'eu' sequer.
E todos os dias são dias de chuva...


Apetece-me escrever. Quero [escre]ver.



... mas [não con]sigo. [Não] sou capaz.


É que tu roubaste-me as palavras. Levaste-as na mala.

Nessa bagagem que não levaste.

Deixaste-a ficar no comboio quando decidiste que não era [aqu]ela a direcção que [quer]ias seguir.

Simplesmente mudaste.

De [des]tino. De ti?
E agora todos os dias são dias de chuva...

Apetece-me gritar. Quero [grit]ar.



... mas não con[t]*[s]igo.


É que a minha voz afinal era a tua.

O meu rosto era o teu.

Tudo em mim eras tu.

Mas tu foste.. E eu fiquei sem nada.

Sendo nada.

E nem um sorriso me deixaste.

Apenas me disseste que todos os dias seriam dias de chuva...


Apetece-me fugir. Quero [fug]ir.



...







... posso?